segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Agora é a vez dela

Débora tem 34 anos, é casada com Marcelo há 11 mas mantém uma relação casual com Pedro há um ano e meio. No início, com Pedro, era só sexo mas a coisa foi se tornando mais intensa e ela acredita estar apaixonada.

Ela conheceu Pedro na fila do supermercado. Ele aguardava atendimento na sua frente com dois carrinhos cheios de compras e ela segurava uma garrafa de vinho tinto chileno, um pedaço de queijo provolone e um saco de Doritos. Eram quase 7 da noite e o supermercado estava lotado. A fila do caixa rápido tinha mais de 15 pessoas. Sabe-se lá por que razão, ela escolheu a fila de Pedro. O que ela não esperava é que ele fosse oferecê-la seu lugar na fila. Ela ficou muito agradecida e Pedro sentiu-se à vontade pra perguntar "Queijos & vinhos?". Ela respondeu "É. Compra do mês?" Ele, "É". Sorriram um para o outro.

Eu poderia agora simplesmente dizer que depois disso o destino se encarregou de uni-los outra vez mas vou sanar a dúvida do leitor curioso e contar como se deu o segundo encontro.  Acredite ou não, Pedro trabalha no mesmo edifício que Débora, Av. República do Chile, nº 100, ele no 13º andar, ela no 21º. Ele é corretor de seguros, ela servidora pública. Numa dessas coincidências incríveis, se encontraram no elevador do prédio, 6 dias depois do primeiro encontro. Era fim do expediente, ela estava descendo para ir embora, o elevador parou no 13º, Pedro entrou, olhou-a surpreso por um instante e soltou "Queijos & vinhos?" Ela, "É. Compra do mês?" Ele, "É." Nesse dia, Pedro deu uma carona para Débora porque seu carro novo estava na revisão. Trocaram telefones porque nunca se sabe, uma carona pode ser útil.

Pedro tinha na época 28 anos mas aparentava ser mais velho por causa da barba hirsuta que ele propositadamente mantinha irregular, "dá um ar mais descontraído" disse a Débora um dia, deitado ao seu lado numa cama de motel. Tinha altura mediana, nem gordo, nem magro mas o verdadeiro charme dele era o sorriso fácil e o ar de galanteador. Débora, que há muito não ouvia um elogio dentro de casa, decepcionada com as tentativas frustradas de chegar ao orgasmo com o marido, viu em Pedro potencial. Nem preciso dizer que o telefone de Pedro tocava por razões outras que não a carona.

Os encontros casuais, sempre muito discretos, ocorriam em motéis perto do trabalho, especialmente em um na Rua da Glória. Ela ligava pro marido, dizia que não poderia pegá-lo na saída do trabalho porque tinha muito serviço, final de mês, fechamento das contas... Marcelo parecia acreditar mesmo tendo consciência de que ela trabalhava no serviço público.

Tudo correu muito bem até o dia em que ela descobriu que Pedro também era casado, muito bem casado por sinal, amava sua esposa e tinha uma filha de 3 anos, Maria Clara. Pedro não entendia porque isso era um problema pra ela já que ela estava na mesma situação. Débora tentou explicar que era diferente porque seu casamento já estava falido, ela vinha pensando em divorciar-se há tempos mas foi empurrando com a barriga por causa dos compromissos, da burocracia, advogados, etc.

Débora decidiu, então, que tinham que parar de se encontrar. Ela não queria ser responsável por destruir um casamento que ia bem. Pedro dizia que não havia a menor possibilidade disso acontecer, o que a deixava ainda mais furiosa. Para ele, Débora era a pimenta do seu casamento. Ele chegava em casa com ainda mais tesão; mas isso ele não disse pra ela.

Pararam de se ver por 3 meses. Débora achou que poderia esquecê-lo facilmente e voltar à sua vida miserável de casada. Ia duas vezes por semana à aula de Ioga, fazia massagem relaxante e corria no Aterro do Flamengo nos finais de semana. Encontrava suas amigas de vez em quando, saiam pra beber e entre um copo e outro de cerveja, flertava com carinhas interessantes que paravam perto da mesa onde estavam sentadas. Mas nada a fazia esquecer Pedro de forma que um dia, desesperada, ligou pra ele "12:30h, naquele da Rua da Glória." Nesse dia ela teve a certeza de que não podia mais continuar casada com Marcelo.

Continuaram se encontrando esporadicamente por mais 6 meses e nada de ela pedir o divórcio. A coisa toda culminou quando Pedro teve que viajar a negócios para a Bahia e ficou 1 mês fora. Cada dia que passava sem Pedro, Débora morria um pouco. Cada vez que encontrava Marcelo, odiava a si mesma mais e mais.

Essa manhã Débora está furiosa porque Marcelo ficou sentado à mesa do café da manhã fazendo cara de peixe morto sabendo que a cada minuto que se atrasam para sair de casa, perdem 5 minutos a mais no trajeto para o trabalho. Está resolvida a falar com ele. Sentada ao volante, planeja como vai dizer a Marcelo que quer se separar. Seu pensamento foge rapidamente para uma praia da Bahia, onde se imagina rolando nua na areia com Pedro.

Débora ainda não sabe que Pedro conheceu Laura nessa viagem.